MULHERES PRETAS QUE MOVIMENTAM #9 - INAÊ MOREIRA

por Karina Vieira

Foto: safira Moreira
      Inaê Moreira é o corpo negro. No espaço, no tempo, no mundo. Inaê dança, se movimenta e baila, por que esse corpo é festa, é ensejo, é vontade e é quereres. Querência de caminhos, curvas e formas de se posicionar aqui ou lá na frente. Corpo negro esse que joga por terra barreiras que antes o prendiam, que amplia horizontes na busca da descoberta.

MBP - Quem é você? 
Inaê Moreira - Sou Inaê, mulher, negra, artista. Defino-me como uma insistente sonhadora. Um corpo inquieto e ansioso por descobrir novos caminhos.

MBP - Como se deu a descoberta da sua negritude?
IM - Minha mãe Angélica, mulher negra, sempre foi militante na Bahia. Educada por ela, a consciência da minha negritude começou cedo. Naturalmente o círculo de amigos da família, assim como o ambiente do Candomblé, no qual fui criada, eram espaços de empoderamento.

MBP - O que te levou a escolher a sua profissão? 
IM - O desejo por ser artista começou como reflexo de uma relação familiar saudável e uma vontade de seguir o que pulsava em mim desde criança. Meu pai, artista plástico e design de jóias, foi um grande responsável por influenciar minhas escolhas. Desde pequena a dança e a expressividade eram virtudes que eu carregava, e quando comecei a fazer aulas na Escola de Dança da FUNCEB na Bahia, com 10 anos de idade, tive certeza que esse era o caminho a percorrer. Estimulada por meu pai que me levava a espetáculos de dança e me apoiava em todas as decisões, prestei vestibular para Dança na UFBA, chegando a me formar como professora. Anos depois me formei no Curso Integral de Circo na Argentina. Hoje me considero uma artista do corpo, com uma trajetória que atravessa diversas linguagens.

MBP - Como foi o caminho da sua graduação? 
IM - No Curso de Licenciatura em Dança me dediquei profundamente ao estudo acadêmico. Fiz parte de dois projetos de pesquisa: o "Memorial da Escola de Dança" e "GDC – Grupo de Dança Contemporânea", viajando com o espetáculo "POP-UP".
Foto: Safira Moreira
MBP - Quem são as pretas e pretos que te inspiram?
IM - Elza Soares, Nina Simone, Mercedes Baptista, Conceição Evaristo, Virgínia Rodrigues, Chimamanda Ngozi Adichie.

MBP - Quem é aquela mulher preta que você conhece e quer que o mundo conheça também?
IM - A minha mãe. Angélica Moreira, pedagoga, chef de cozinha. Uma grande mulher negra que luta todos os dias pelo que acredita com muita elegância. É a pessoa mais inteligente, íntegra e elegante que eu conheço. [risos]

MBP - Na sua trajetória profissional o quanto avançamos e o que ainda temos que avançar? 
IM - Avançamos pouco. Na escola de Circo fui a única aluna negra. Na aula de ballet continuo sendo a única. No meu trabalho sou a única professora negra. Muito temos que avançar ainda, ocupando esses espaços. Nas artes do corpo ainda estamos reduzidas a poucos espaços como o das aulas ou apresentações de danças de matrizes africanas ou capoeira, mas no ambiente da Dança Contemporânea, Moderna, Ballet Clássico, Circo, Yoga, etc., somos poucas e poucos. Sinto uma grande falta de representatividade nesses espaços.

MBP - Como você lida com a sua estética negra?
IM - Sempre usei o cabelo natural e o tema da aceitação sempre foi trabalhado desde pequena. Trançar o cabelo, exibir o black, valorizar a estética negra, é algo que trago de berço.


MBP - O que é representatividade pra você? 
IM - Representatividade pra mim é ocupar cada vez mais espaços de poder na nossa sociedade, empoderando os mais novos, valorizando aquilo que a nossa cultura produz. É me ver representada em uma artista negra, ser atendida por uma médica negra, ver um anúncio de margarina com uma família negra. Sinto que estamos dando os primeiros passos com relação a representatividade no Brasil.

Conheça a dança de Inaê Moreira:
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This entry was posted on 20/07/2016 and is filed under ,,,,. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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