por Karina Vieira
Foto: safira Moreira
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Inaê Moreira é o
corpo negro. No espaço, no tempo, no mundo. Inaê dança, se movimenta e baila,
por que esse corpo é festa, é ensejo, é vontade e é quereres. Querência de caminhos,
curvas e formas de se posicionar aqui ou lá na frente. Corpo negro esse que
joga por terra barreiras que antes o prendiam, que amplia horizontes na busca
da descoberta.
MBP - Quem é você?
Inaê Moreira - Sou Inaê, mulher, negra, artista. Defino-me como uma insistente sonhadora. Um
corpo inquieto e ansioso por descobrir novos caminhos.
MBP - Como se deu a
descoberta da sua negritude?
IM - Minha mãe Angélica, mulher negra, sempre foi militante na Bahia. Educada por
ela, a consciência da minha negritude começou cedo. Naturalmente o círculo de
amigos da família, assim como o ambiente do Candomblé, no qual fui criada, eram
espaços de empoderamento.
MBP - O que te levou a
escolher a sua profissão?
IM - O desejo por ser artista começou como reflexo de uma relação familiar saudável
e uma vontade de seguir o que pulsava em mim desde criança. Meu pai, artista
plástico e design de jóias, foi um grande responsável por influenciar minhas
escolhas. Desde pequena a dança e a expressividade eram virtudes que eu
carregava, e quando comecei a fazer aulas na Escola de Dança da FUNCEB na
Bahia, com 10 anos de idade, tive certeza que esse era o caminho a percorrer.
Estimulada por meu pai que me levava a espetáculos de dança e me apoiava em
todas as decisões, prestei vestibular para Dança na UFBA, chegando a me formar
como professora. Anos depois me formei no Curso Integral de Circo na Argentina.
Hoje me considero uma artista do corpo, com uma trajetória que atravessa
diversas linguagens.
MBP - Como foi o
caminho da sua graduação?
IM - No Curso de Licenciatura em Dança me dediquei profundamente ao estudo
acadêmico. Fiz parte de dois projetos de pesquisa: o "Memorial da Escola de
Dança" e "GDC – Grupo de Dança Contemporânea", viajando com
o espetáculo "POP-UP".
Foto: Safira Moreira |
MBP - Quem são as
pretas e pretos que te inspiram?
IM - Elza Soares, Nina Simone, Mercedes Baptista, Conceição Evaristo, Virgínia
Rodrigues, Chimamanda Ngozi Adichie.
MBP - Quem é aquela
mulher preta que você conhece e quer que o mundo conheça também?
IM - A minha mãe. Angélica Moreira, pedagoga, chef de cozinha. Uma grande mulher
negra que luta todos os dias pelo que acredita com muita elegância. É a pessoa
mais inteligente, íntegra e elegante que eu conheço. [risos]
MBP - Na sua
trajetória profissional o quanto avançamos e o que ainda temos que avançar?
IM - Avançamos pouco. Na escola de Circo fui a única aluna negra. Na aula de ballet
continuo sendo a única. No meu trabalho sou a única professora negra. Muito
temos que avançar ainda, ocupando esses espaços. Nas artes do corpo ainda
estamos reduzidas a poucos espaços como o das aulas ou apresentações de danças
de matrizes africanas ou capoeira, mas no ambiente da Dança Contemporânea,
Moderna, Ballet Clássico, Circo, Yoga, etc., somos poucas e poucos. Sinto uma grande
falta de representatividade nesses espaços.
MBP - Como você lida
com a sua estética negra?
IM - Sempre usei o cabelo natural e o tema da aceitação sempre foi trabalhado desde
pequena. Trançar o cabelo, exibir o black, valorizar a estética negra, é algo
que trago de berço.
MBP - O que é
representatividade pra você?
IM - Representatividade pra mim é ocupar cada vez mais espaços de poder na nossa sociedade,
empoderando os mais novos, valorizando aquilo que a nossa cultura produz. É me
ver representada em uma artista negra, ser atendida por uma médica negra, ver
um anúncio de margarina com uma família negra. Sinto que estamos dando os
primeiros passos com relação a representatividade no Brasil.
Conheça a dança de Inaê Moreira:
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