por Jaciana Melquiades
Foto: Thales de Lima |
A branquitude
confere unidade. Fiquei horas pensando em termos diferentes estabelecidos,
catalogados pelo IBGE pra classificar pessoas autodeclaradas brancas. Não tem.
Branco é branco. A branquitude, além de uma série de privilégios, confere
unidade. A estrutura racista socialmente construída fortalece ainda essa
unidade. A branquitude sabe o número do navio de onde veio, sabe o sobrenome dos
antepassados até as gerações mais distantes. A branquitude permite. Ponto.
Têm os descendentes dessa ou daquela etnia, têm os dessa ou daquela região,
mas, aqui no Brasil, branco é branco. O poder que a branquitude confere não
permitiria que fosse diferente. O poder que a branquitude oferece faz com que
ninguém pesquise, por exemplo, os efeitos do racismo no racista. Como o
pensamento do racista funciona? Quais os efeitos psicológicos do racismo no
racista? Os objetos de estudos somos sempre nós. A branquitude estabelece o
padrão, não importa quais sejam as diferenças internas.
Em comparação fiquei
remoendo as dores que a negritude nos causa. Digo remoendo pois estou há dias
com um nó na garganta pensando no quanto mulheres e homens, negras e negros, não
têm um elemento agregador. Pelo menos não consegui pensar em um elemento
agregador positivo. Pensei nas centenas de termos que usam para definir homens e
mulheres negros e negras. Só no IBGE, de forma oficial, são três: pardo, preto
e negro. Socialmente temos outros infinitos que seria impossível listar. A
mesma estrutura racista os desagrega e faz com que as diferenças internas sejam
maiores que o fator que deveria nos torna unidade: a negritude. Somos "a
preta que lacra", "morenas", "mulatas", a "neguinha favelada", a "mulata tipo
exportação", palmiteiro, "a solitária", "marrom bombom", "escuro", "pardo" e mais uma
centena de definições que acabam por superar a negritude. Estou
remoendo aqui um monte de dúvidas, mas principalmente um monte de medos. Mulheres
e homens vêm tentando costurar e remendar a negritude faz tempo, fazem isso
de formas muito diferentes e todas são fundamentais... pelo menos tem sido na
minha formação enquanto mulher preta. As pretas que estão na universidade, a
tia que toma conta das crianças na favela, a moça que faz o vídeo sobre cabelo,
cara que fala de moda, quem vai pra manifestação, quem vai pra escolas, todas e
todos. Se me vejo me forma e só agradeço por isso. Movimento me parece isso:
estar em todos os lugares.