por Élida Aquino
Ilustração: Pati Pinter |
Adoro
ideias que surgem para tornar o mundo mais justo, que propõe alguma resolução e
podem potencializar pessoas. Se tivermos os olhos atentos e coração aberto,
vamos notar que ideias e agentes transformadores assim estão sempre ao nosso
redor. Diariamente surgem movimentos incríveis que podem fazer diferença e o Meninas Black Power está aí pra provar!
Encontrei My Ruanda através de uma
mensagem da Camila para o MBP e foi amor à primeira vista. Pra nós é
imprescindível que uma outra visão sobre África seja construída no mundo e esse
projeto é um jeito bacana de fazer com que isso aconteça, por isso vamos divulgá-lo. A Camila (que é lindona!) faz mestrado em Relações Internacionais, nutre uma
paixão enorme por Ruanda e, para estabelecer uma ponte entre a África e Brasil,
partirá pra lá em Novembro com a missão de coletar dados que serão utilizados em
sua dissertação. Bancar esse sonho não é simples, então ela mobilizou uma
campanha no Catarse (vejam aqui: https://www.catarse.me/pt/ myruanda)
e está aceitando
todas as contribuições possíveis. Essa entrevista vai permitir que vocês saibam
mais sobre ela, My Ruanda, como mudar o mundo e, principalmente, como
contribuir. Ela vai arrasar! Vamos ajudar? Sim ou com certeza? Ainda
dá tempo de fortalecer!
Essa é a Camila, gente! |
Meninas Black Power – Queremos saber mais sobre
você! Conta aí de onde você vem, sua formação, área de atuação e o que mais
quiser falar.
Camila Andrade –
Meu nome é Camila Andrade, sou graduada em Relações Internacionais pela
Unijorge (BA) e mestranda em Relações Internacionais pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Sou de Salvador, mas atualmente moro em Florianópolis.
MBP – E como surgiu o interesse por Ruanda? O que te
motivou?
CA – A partir de um curso que fiz sobre Direito Internacional tive mais
contato com o genocídio em 1994, surtindo a vontade de me aprofundar mais e
mais na temática. Troquei o tema/recorte da minha monografia e comecei a
escrever sobre o genocídio e a participação (ou não) da sociedade
internacional. Perceber tamanha atrocidade que aconteceu no país e ler
sobre o processo de reconstrução ruandês, fez crescer minha vontade de ir lá e
ver de perto como o país, após 21 anos do acontecimento, está lidando com tudo
isso. Por ser uma história de superação, redescobrimento da própria cultura, de
uma sociedade ruandesa e não de divisões étnicas. Isso também me fez conhecer mais
sobre mim e a minha negritude.
MBP – Conta como começou o My Ruanda!
CA – O My Ruanda começou com o desejo de documentar os meus passos para chegar
ao meu grande sonho: finalmente conhecer Ruanda e fazer pesquisas lá. Também
surgiu para divulgar mais sobre Ruanda e África. Percebi que eu comentava com
meus amigos, até com colegas da área de Relações Internacionais, e poucos
sabiam o que era Ruanda e sobre temas africanos. Com o desejo de fomentar mais
debates acadêmicos e até a vontade de pessoas se aproximarem mais de África,
criei o My Ruanda Brasil para desvencilhar alguns estereótipos que a África
carrega ao longo da sua história contada por externos.
MBP – Enquanto mulher negra, quais seus objetivos num projeto como este?
CA – Passei por um processo de autoconhecimento e aceitação da minha imagem
como ela é: negra, viva e poderosa a partir dos meus traços. Cortei meu cabelo,
entrei mais em contato com minha africanidade e tento através da
academia passar a entender mais o continente africano como uma região cheia de
riquezas e aprendizados, considerando que ele ainda é infimamente estudado. O
My Ruanda é uma forma de divulgar algo que me fez entrar em contato comigo mesma,
me valorizar mais pelo o que sou também valorizar minhas raízes. Me achar
bonita, dyva, mesmo que eu não esteja
nos moldes que a mídia se cansa tanto de divulgar. Entrando em contato com a
história africana, a história ruandesa em especial, percebi que não preciso de
caixas e moldes para pertencer a algo. E sigo tocando o My Ruanda para que
outras meninas, assim como eu percebi, percebam isso.
MBP – O que você pode nos contar sobre a realidade
atual da população ruandesa?
CA – É o que eu pretendo observar e estudar mais. O que se sabe é que Ruanda
é considerada como modelo de reconstrução pós-conflito, com consideráveis taxas
de crescimento e desenvolvimento. O que é divulgado também é a coesão social
existente (os ruandeses se vendo como uma unidade), mas é difícil saber de
detalhes sobre esses aspectos, especialmente aspectos políticos.
MBP – Você já respondeu indiretamente, mas pode
dizer sobre os objetivos principais de sua visita? De que forma seu projeto vai
contribuir para as questões do país?
CA – Com minha viagem pretendo estudar a Cooperação Internacional
Descentralizada em Ruanda (ou seja, a cooperação empreendida por governos
subnacionais - municípios, Estados, cidades, províncias) e ver como o fenômeno
impacta em termos de desenvolvimento local. A bibliografia nessa temática, se
tratando da África, é quase inexistente, então, por que não estudar a África?
Por que não ter documentações nessa área? Isso que pretendo fazer. Acredito que
tanto o Brasil como Ruanda e outros países serão beneficiados pelo acúmulo
acadêmico que se pretende obter em um mês de visita a Ruanda. Fora do circuito
acadêmico, eu quero interagir com a população local e observar a situação
socioeconômica ruandesa, muitas vezes não sendo possível apenas ser entendida
por meio de livros e documentos.
MBP – Seu projeto é incrível e precisamos de mais e
mais iniciativas assim contagiando o mundo. Deixa uma mensagem de incentivo
para Meninas Black Power que querem, assim como você, promover mudanças por aí?
CA – Não é impossível chegar ao seu objetivo. Com muita determinação,
trabalho e garra, vamos alcançar o que queremos. Eu saí da condição de sonhar
por algo que, por não ter condições financeiras, não seria possível realizar.
Com ajuda do coletivo, nós podemos sim! Precisamos conhecer mais sobre a nossa
história e, sim, lutar pelo o que é nosso: espaço, respeito e coragem para
seguir os nossos sonhos.
Se apaixonou também? Então aproveita o embalo, dá uma
olhada nas redes My Ruanda, divulga esse post e apoie a ideia. Será
maravilhoso saber sobre o que a Camila vai trazer na bagagem! Vamos juntxs!
Catarse: www.catarse.me/pt/ myruanda
Página: www.facebook.com/myruanda