por Karina Vieira
Foto: Tatiana Reis para Festival Latinidades |
Exóticas,
estilosas, "na moda". Hipersexualizadas, coisificadas. Estes são os
adjetivos que nos colocam no lugar de estranhas, de coisas, de algo sem
humanidade ou longe do que é considerado normativo.
Temos o dever de aceitar,
respeitar a nós mesmas, a todas e a cada uma como ser humano, único e
diferente. Por que é isso. Não somos iguais, mas lutamos por direitos iguais,
por igualdade para além das nossas diferenças.
Quando nos apontam na rua, riem, fazem chacota, nos
humilham, sabemos o motivo: racismo. Racismo institucionalizado. Racismo
televisionado e exposto nos jornais todos os dias. "Não me mate! Sou
consumidora!" Não! Somos cidadãs, somos pessoas. Não queremos ser
vistas como meros consumidores, como moedas de troca. Lutamos o dia inteiro,
todos os dias por visibilidade, por direitos. Direito de sermos
efetivamente quem somos, por andarmos na rua com nossos cabelos crespos,
com nossos traços fenotípicos, com nossos turbantes, exaltando a nossa
ancestralidade, e sermos respeitados por isso e para além disso. Somos mais do
que cabelos. Utilizamos eles como ponto de partida para discutirmos racismo,
preconceitos e todas as problemáticas que atingem os nossos. Sabemos que os
olhos que nos julgam, as bocas que riem de nós e as mãos que nos apontam,
muitas vezes se veem refletidos em nós, e que por medo ou auto-ódio preferem
ser os primeiros a fazerem chacota, do que ser o motivo dela.
Insiro aqui uma citação de Malcom X, que explica de que forma e porque
sentimos auto-ódio:
"Temos sido um povo que odeia as nossas características africanas.
Nós odiávamos nosso cabelo, nós odiávamos a forma do nosso nariz, queríamos ter
um daqueles narizes longos e finos, você sabe. Sim. Nós odiávamos a cor da
nossa pele, odiávamos o sangue da África que estava em nossas veias. E em odiar
os nossas características, nossa pele e nosso sangue acabamos odiando a nós
mesmos. Nossa cor tornou-se para nós uma cadeia. Nós sentimos que ele estava
nos segurando. Nossa cor tornou-se para nós como uma prisão que não nos deixava
ir por este ou aquele caminho. Sentíamos que todas essas restrições foram
baseadas somente em nossa cor. E a reação psicológica foi que nossas
características, nossa pele e nosso sangue se tornaram odiosos para nós. Isso
fez com que nos sentíssemos inferiores, que nos sentíssemos inadequados e
impotentes. E quando caímos nesses sentimentos de inadequação, de inferioridade
ou desamparo, nós não temos mais confiança em outro homem negro que queira nos
mostrar um caminho. Nós não pensamos que um homem negro pudesse fazer qualquer
coisa séria. Nós nunca pensamos em termos de fazer as coisas por nós mesmos.
Porque nos sentimos desamparados. O que nos fez sentir impotentes foi o nosso
ódio por nós mesmos. E o nosso ódio por nós mesmos decorre do nosso ódio pelas
coisas africanas."¹
Que possamos matar, exterminar, todo
preconceito presente em nossas práticas cotidianas. Que possamos fazer um
exercício diário de olhar o outro com olhares menos acusadores, menos
perversos, que os dedos apontem cada vez menos e que possamos entender que o
que faz de nós seres humanos diferentes e singulares são exatamente as nossas
particularidades. Ninguém é vítima da sua própria história.
Em
apoio a Yasmin Thayná, Thainá Azevedo, Juliana Valeriano e todas aquelas que
passam por episódios de racismo todos os dias.
¹http://www.malcolm-x.org/speeches/spc_021465.htm <Acessado
em 10 de agosto de 2014>
Posso estar sendo até simplista no meu comentário, não quero ser desrespeitosa com o movimento e os esforços de tantos pesquisadores que trouxeram para nós imensas contribuições para esse entendimento complexo do ser negro no Brasil que é uma espécie de "morde, assopra" porque assimilam a nossa cultura que constitui a base de nossas manifestações, mas excluem os produtores da mesma que não tem o menor poder sobre sua criação. Somos maioria da população e penso que nunca avaliamos a extensão dos recursos que temos nas mãos. Imagina boa parte da população não assitindo, imagine boa parte da população não consumindo aquilo que não a representa. Nossa retórica pode até ter algum poder de convencimento, mas é de pouca magnitude. Não há hoje, infelizmente, poder maior que o dinheiro e ele sim, é o argumento que pode ser ouvido com mais força. Assim fez Gandhi e Luther King. Acredito no pacifismo, na reistência pacífica através do boicote, do não "assistir" do não "comprar". Sabe o argumento do bolso? Infelizmente ele é o único a ser ouvido.
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